Grávidas não podem “comer por dois”. Todos os especialistas entrevistados sobre esse assunto concordam que essa história é mito e pode, na verdade, prejudicar tanto a mãe como o bebê. A nutricionista Carla Alberice Pastore, da Universidade Federal de Pelotas (RS), explica que durante a gravidez, ao contrário do que se pensa, não é necessária tanta energia a mais.“Nas primeiras doze semanas, não é necessário que a mãe ingira nada além do que quando não estava grávida”, garante. Segundo a especialista, a partir da 13ª semana, são necessárias apenas 300 calorias adicionais, valor que se mantém até o fim da gestação. “Isso equivale a 1 maçã média, 1 pão francês (50g) sem miolo e 1 e ½ copo de leite desnatado”, diz.
Técnica do Conselho Regional de Nutricionistas em São Paulo, Rita Goulart destaca pesquisas que apontam que filhos de gestantes que mantêm uma alimentação adequada adquirem o hábito de consumir alimentos saudáveis. “O contrário também é verdade. Ou seja, se a gestante consumir alimentação rica em gorduras, sal e açúcar, o filho também desenvolverá uma preferência por estes alimentos”, afirma.
Outras orientações importantes são: comer de 5 a 6 vezes por dia em pequenas quantidades e em intervalos de cerca de 4 horas, evitar alimentos hipercalóricos, excesso de gorduras e massa, dar preferência aos alimentos integrais, ingerir bastante fibra e quantidade adequada de líquidos. “O ganho de peso ideal durante a gestação deve ser de 6kg, mais 5% do peso inicial”, afirma o ginecologista e obstetra Odair Albano.
Pode correr durante a gravidez?
Grávidas podem praticar corrida, mas com (muitas) restrições e apenas nos primeiros meses de gestação. Para quem já pratica a atividade, no início da gestação não há contra-indicações. Mas quem corre ao ar livre precisa redobrar a atenção para evitar quedas. “Com o evoluir da gestação, a gestante deve substituir a corrida por algo com menos impacto, como a caminhada e a hidroginástica”, afirma a ginecologista e obstetra Cláudia Garcia Magalhães, professora da Faculdade de Medicina de Botucatu (Unesp).A coordenadora do curso de fisioterapia da Unifesp, Tânia Scudeller, explica que a corrida é um exercício muito intenso, que exige bastante do sistema cardiovascular, o que pode ser um problema já que durante a gestação esse sistema também é sobrecarregado. “A somatória dessas duas demandas – corrida e gravidez – pode diminuir o fluxo de sangue para o feto e trazer prejuízo ao seu desenvolvimento”, alerta.
A orientação da educadora física Denise Vancea, professora da Universidade de Pernambuco, é trocar a corrida pela caminhada. “Caminhar durante a gravidez com regularidade, todos os dias, pode evitar o ganho de peso desnecessário, o que consequentemente diminui o risco do desenvolvimento de diabetes gestacional ou hipertensão”, informa a especialista.
Nem as atletas profissionais estão isentas dos cuidados. As corredoras gestantes precisam treinar com supervisão e ser acompanhadas com maior frequência pelo obstetra.
Pode tomar adoçante durante a gravidez?
Grávidas só podem tomar adoçante em casos específicos e com restrições. O ginecologista Luiz Ferraz de Sampaio Neto, da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Sorocaba, explica que faltam estudos científicos suficientes que definam as doses adequadas ou quais são os efeitos do uso de adoçantes durante a gravidez. “Aparentemente, o uso em pequenas quantidades seria seguro, especialmente para aquelas que precisam controlar melhor o ganho de peso”, afirma.A geneticista Debora Rodrigueiro, professora do departamento de Morfologia e Patologia da PUC-SP, também ressalta que o uso de adoçante na gestação deve ficar limitado às grávidas que precisam de maiores cuidados no controle de peso e às que são diabéticas. Mesmos nesses casos é preciso recomendação médica, pois nem todos os produtos são indicados para gestantes. “Baseado nas evidências atualmente disponíveis, deve-se dar preferência ao aspartame, sucralose, acessulfame-K e a estévia”, afirma Debora Rodrigueiro.
Todos estes adoçantes citados pela especialista também são considerados seguros para as gestantes pela FDA (Food and Drug Administration, órgão norte-americano que regulamenta alimentos e remédios). Mesmo assim, é preciso avaliar cada caso individualmente, já que alguns dos produtos podem ser contra-indicados em situações específicas. O médico nutrólogo José Alves de Lara, vice-presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), lembra que o aspartame, por exemplo, já não pode ser consumido por pessoas que sofrem de fenilcetonúria, uma doença metabólica em que o organismo não consegue processar o aminoáciodo fenilalanina.
Pode doar sangue durante a gravidez?
Grávidas não podem doar sangue. O Ministério da Saúde proíbe a doação de sangue de gestantes e lactantes. A ginecologista e obstetra do serviço de reprodução humana da Escola Paulista de Medicina, Denise Coimbra, explica que ao doar sangue a gestante compromete seu estoque de ferro no organismo, o que pode evoluir para um quadro de anemia trazendo riscos ao feto.O ginecologista Luiz Ferraz de Sampaio Neto, da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Sorocaba (PUC-SP), afirma que a possibilidade da gestante sofrer um desmaio durante ou logo após a doação é grande. “Se ela desfalecer ou acabar caindo, pode haver prejuízos tanto para ela quanto para o bebê – o que por si só já justificaria não doar sangue nesta fase”, afirma.
Pode usar adesivo de nicotina para parar de fumar?
Grávidas não podem usar adesivos de nicotina. O médico pneumologista da Divisão de Controle do Tabagismo do INCA (Instituto Nacional do Câncer), Ricardo Henrique Meirelles, explica que o uso da nicotina durante a gestação pode retardar do desenvolvimento cerebral e inibir a maturação pulmonar do feto – e o monóxido de carbono aumenta ainda mais o risco desses danos. “Ao usar os adesivos, a mãe estaria recebendo uma concentração menor de nicotina, sem monóxido de carbono. Mas estudos científicos demonstraram que uso de adesivos de nicotina na gestação levaram a sérios efeitos adversos, especialmente parto prematuro”, afirma o pneumologista.O farmacêutico Rogério Hoefler, do Centro Brasileiro de Informação sobre Medicamentos do Conselho Federal de Farmácia, reforça a necessidade de estimular a gestante tabagista a consultar médicos e psicólogos em busca de tratamento. “O uso de remédios deve ser evitado. As situações especiais requerem avaliação médica quanto aos riscos e benefícios do uso de medicamentos”, completa.
Segundo Ricardo Meirelles, o esforço vale a pena tanto para a saúde da mãe quanto para a saúde do filho. “O tabagismo na gravidez é responsável por aborto espontâneo, baixo peso ao nascer, parto prematuro, morte perinatal, placenta prévia (quando a placenta implanta-se no colo do útero, provocando sangramentos e comprometendo a oxigenação do bebê), descolamento de placenta, redução do calibre das vias aéreas – o que dificulta a respiração da criança – e déficit de aprendizado”, lista.
Pode beber vinho durante a gravidez?
Grávidas não podem beber vinho. Além de não trazer benefícios nutricionais ao feto, o álcool ainda pode trazer riscos à saúde dele. “A maior causa não genética de deficiência mental é a ‘síndrome alcoólica fetal’ (SAF). De 2 a 4 doses diárias de álcool são suficientes para instalar este quadro”, explica Debora Rodrigueiro, professora do departamento de Morfologia e Patologia da PUC-SP. A SAF pode provocar microcefalia - crânio de tamanho reduzido e cérebro inferior ao normal -, presença de lábio superior mais fino que o inferior e filtro nasal apagado.Carla Alberici Pastore, nutricionista da Universidade Federal de Pelotas (RS), orienta as futuras mamães a não consumir álcool durante a gestação. “Estudos mostram que mesmo pequenas doses ocasionais de álcool trazem impactos negativos para o bebê. Quanto maior a dose de álcool e maior a frequência de consumo, piores essas consequências”, alerta. José Alves de Lara, médico nutrólogo e vice-presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), destaca que, independentemente de estar grávida, pelo seu menor peso e por um determinante metabólico, as mulheres devem ter sempre mais cuidado com o álcool.
Pode fazer peeling com ácidos durante a gravidez?
Grávidas não podem fazer peeling com ácidos, já que as substâncias usadas neste tipo de tratamento podem ser absorvidas pela mãe e, pela corrente sanguínea, atingirem o feto provocando graves problemas. “A isotretinoína (substância usada no tratamento de acne severa) pode causar sério comprometimento no sistema nervoso e cardiovascular do feto, além de anomalias de crânio, face e orelhas”, alerta a geneticista Debora Rodrigueiro, professora do departamento de Morfologia e Patologia da PUC-SP.A melhor maneira de evitar as manchas escuras que aparecem durante a gestação é usando filtro solar e reduzindo a exposição ao sol. “Além disso, muitas destas manchas tendem a diminuir ou até desaparecer com o término da influência dos hormônios da gravidez”, explica a dermatologista Aparecida Machado de Moraes, Chefe de Dermatologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. “O mais adequado é que se trate as manchas e acnes depois da gestação. Isso trará melhores resultados, inclusive para as mães”, garante.
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