Perder a mãe, o namorado, o melhor amigo. Veja como enfrentar esses dramas e superar a dor
Sacar uma câmera digital da bolsa para clicar um corpo em um caixão é considerado um gesto mórbido e de mau gosto. Mas no início do século 19, quando a fotografia nasceu, uma de suas primeiras aplicações foi justamente o retrato de pessoas mortas. Fotografar era caro, raro e por isso fazia todo o sentido que as famílias reservassem esse "investimento" para o registro da despedida daqueles que estavam indo embora. Na época, a morte frequentava a sala de visitas das casas literalmente. Os velórios eram domésticos e acompanhados até por crianças. Morrer era encarado com muito mais naturalidade do que hoje. "Com o tempo o assunto foi virando tabu", diz o geriatra Franklin Santana Santos, que ministra um curso de pós-graduação sobre educação para a morte na Faculdade de Medicina da USP. "A morte é difícil de ser aceita atualmente porque representa não só o fim da vida, mas de valores cultuados pela sociedade, como juventude e beleza." Pensar nela significa reconhecer que não se será jovem e bonito para sempre.Educação para a vida
Menos escolados em perdas e danos, os jovens são os que mais têm dificuldade de lidar com o tema. Morte e juventude realmente "não combinam" e, por isso, tragédias que envolvem jovens são capazes de provocar comoção coletiva. Nessas horas, a morte se impõe e não deixa ninguém esquecer sua inevitabilidade. O lado bom dessa imposição é que pensar em morrer acaba sendo uma educação para a vida, para o momento presente. Ao tomarmos consciência da finitude, fazemos reflexões do tipo: estou dedicando meu tempo àquilo que me deixa feliz?
O período que recebe o nome de luto vai do momento em que se tem a notícia de uma perda até a fase em que se aceita que a pessoa querida foi embora e se volta a fazer planos. Passar pelo luto nada mais é do que digerir a morte até encontrar um sentido pessoal e íntimo para ela.
O maior desafio é entender que luto não é doença. "É normal ficar triste e pensar com frequência na pessoa que morreu, não achar graça em nada e se atrapalhar com as coisas práticas", diz a coordenadora do Laboratório de Estudos e Intervenções sobre o Luto da PUC-SP, Maria Helena Franco. "O luto só deixa de ser natural quando se estende muito a ponto de impedir que a pessoa retome sua vida."
A maioria das pessoas passa por fases parecidas dentro desse processo: o choque, a negação da morte, a revolta (que pode vir acompanhada de culpa) e, por fim, a tristeza profunda, que é a constatação de que tal perda é irreversível. Apesar disso, cada um tem um jeito diferente de expressar sua dor. Há quem se recolha e prefira não tocar no assunto, e há quem sinta necessidade de falar compulsivamente sobre a situação, por exemplo. O importante nessas horas é não reprimir as emoções, as suas ou as alheias.
Etiqueta do luto
Como as pessoas evitam falar sobre a morte, ficam sem saber como agir quando alguém próximo passa por uma perda. "Procure permanecer por perto e demonstrar seu sentimento", diz Ana Horta, coordenadora do Programa de Intervenção e Estudos sobre Perda e Luto da Unifesp. "Diga o que vai no seu coração ou apenas dê um abraço. A melhor maneira de ajudar é manter-se disponível para o outro e deixá-lo falar se for o caso." A especialista diz ainda que ir a velórios ou enterros demonstra consideração com quem está sofrendo e faz com que o enlutado se sinta acolhido. Ao cumprimentá-lo, nada de "Meus pêsames" ou "Meus sentimentos". Soa frio e antiquado. Diga que sente muito pela perda e que está à disposição para ajudar. Outra dica: não opine sobre como a pessoa deve se comportar. Aconselhá-la a tomar calmantes ou a "ficar forte neste momento" mais atrapalha do que ajuda.
Para ver
· A Partida (2008) / Diretor: Yojiro Takita
Para ler
· As Intermitências da Morte (2005) / Autor: José Saramago / Editora: Companhia das Letras
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