sexta-feira, 8 de julho de 2011

Endometriose,uma doença de vários rostos


A endometriose é uma ginecopatia – doença típica do sexo feminino – que não escolhe rostos. Isso porque, apesar de atingir até 15% das mulheres em idade reprodutiva, as pacientes que apresentam o transtorno não possuem um perfil específico, sendo estes cada vez mais variados. O adiamento dos planos de gravidez é  apenas um dos fatores que predispõe a mulher a desenvolver a doença, cuja causa ainda é desconhecida.


“No passado acreditava-se em diferenças sociais e econômicas, dizendo-se que se tratava de uma doença de mulheres com maior poder aquisitivo por estas terem dado à luz poucos filhos. Hoje, porém, com o advento das técnicas diagnósticas e também da interpretação anátomo-patológica, entendemos que todas as classes sociais estão sujeitas à doença, com maior relevância em grandes centros”, avalia o ginecologista Nicolau D'Amico, do Hospital Samaritano de São Paulo e diretor da Associação Brasileira de Endometriose (SBE).

Ainda de acordo com o especialista, a endometriose pode ter caráter hereditário, e esse tem sido o tema dos principais estudos internacionais sobre a doença, o que faz com que o clínico ginecologista dedique “um olhar mais atento” às famílias que apresentem casos do transtorno. “Daí a prevenção primária ser outro assunto de grande importância. Novos medicamentos estão sendo lançados no mercado para que, desde cedo, possamos indicá-los no intuito de prevenir a endometriose”, acrescenta.

Entre os tratamentos, há a indicação de pílulas anticoncepcionais orais, devido à ação hormonal que o medicamento possui, sobretudo na regularização das menstruações, e diminuição do quadro de cólica, um dos principais sintomas da doença. Para amenizar tal sintoma, a pílula pode ser usada de maneira cíclica ou contínua, dependendo de cada paciente.

Já sobre a influência de estresse, ansiedade e depressão – transtornos que podem ser agravados pelo estilo de vida moderno, sobretudo nas grandes cidades – no desenvolvimento da endometriose, o Dr. D'Amico explica que toda situação que envolva esses sintomas podem, de alguma forma, debilitar o sistema imunológico. “E como uma das teorias da endometriose se baseia na deficiência desse sistema, com certeza eles podem agravar”, afirma.

“Por essa razão é que indicamos atividade física e a manutenção de um estado emocional adequado para a complementação do tratamento da endometriose”, completa. Exercícios como caminhada, natação e passeios de bicicleta são exemplos bem-sucedidos, por combinarem também horas de lazer. Essas práticas liberam endorfina, hormônio com propriedades analgésicas semelhantes às da morfina e ligado à sensação de bem-estar.

Sintomas agravados

O ginecologista concorda que estresse e a depressão em mulheres que têm endometriose estão ligados à irregularidade no ciclo menstrual . “Esses transtornos podem alterar o ciclo menstrual, porém, não especificamente em mulheres com endometriose”, avalia. A depressão, por exemplo, pode ser “observada em mulheres com endometriose, independente do tratamento – existem várias publicações sobre esse tema”.

“Porém, quando se indica tratamento com medicações específicas que induzem a menopausa temporária, esses sintomas podem surgir agudamente ou agravar-se em quem previamente já os apresenta”, acrescenta o Dr. D'Amico, que descarta ainda a possibilidade de o câncer de ovário ser maior entre as mulheres com endometriose, embora o câncer de ovário chamado de “células claras” seja o que mais esteja relacionado à doença.

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