Você sabe como se fazer respeitar? Percebe quando está desrespeitando alguém sem querer?
De acordo com definição do Aurélio, respeitar significa honrar, acatar, considerar e reconhecer. Quando essa virtude existe em abundância, não é quase notada, e passa a fazer parte da paisagem. Porém, quando é rara e escassa, facilmente se percebe sua importância. "É como a água", dizem sabiamente Ted e Jenny O'Neal no livro infantil "Respeito É Bom e Faz Bem". "Só no deserto é que se tem uma idéia de como ela faz falta".
Mas hoje não se dá muita bola para essa qualidade que tem o poder de facilitar as relações e garantir bons acordos de convivência. É como se ela fosse uma virtude menor, não muito importante, uma coisa chata, antiga.
Mas por que está acontecendo tudo isso exatamente agora? "É porque estamos vivendo uma transição social", diz a pedagoga Alice Rocha Mattos. O modelo patriarcal, rígido e solene, em que o respeito era sinônimo de medo e subserviência, está acabando ou, pelo menos, sendo posto em xeque.
Só que tem um problema: ainda não há nada definitivo no lugar. O que o modelo patriarcal ensina, basicamente, é como impor limites e exigir obediência, sem questionamentos. Os verbos mais usados com relação ao respeito nesse sistema são exatamente esses: "impor" e "exigir".
Enfim, o que se chamava de respeito era, na verdade, puro medo. Funcionava, é claro, porque toda a sociedade tinha esse modelo como referência. Mas isso está mudando. A sociedade fragmentou-se em outros modelos e a obediência cega parece estar com os dias contados, pelo menos nos países ocidentais mais democráticos.
Mas será que a falência do patriarcalismo significa que não se deva mais estabelecer alguns limites para se obter respeito? "Não, é claro. Os limites ainda devem existir e ser observados, senão é o caos social. Hoje, porém, a dinâmica é outra: a obediência, ou consentimento, é obtida por meio da compreensão, do diálogo, da consciência. É completamente diferente", explica a pedagoga Lúcia Amarante Correa.
O respeito geralmente nasce da nossa atitude diante do limite. Se não aprendemos a respeitar limites ainda na infância, mais tarde ficará natural invadir, abusar e desrespeitar, seja o outro, seja a natureza, seja uma instituição. "Uma criança sem limites se tornará um adulto com dificuldade nos relacionamentos, com resistência em aceitar regras", diz a psicóloga Patrícia Gugliotta Jacobucci, da Unicamp.
"Mas o limite pode ser estabelecido com afetividade para a criança, mesmo que seja empregada a firmeza", complementa. "Quem recebeu o valor do amor, atenção e cuidado em casa, vai saber discernir com mais facilidade quando e a quem se deve respeitar".
Porém, para muitas pessoas só a demonstração de força é capaz de inspirar o respeito. "É possível que elas só se detenham diante de um rosnar de dentes", afirma a terapeuta corporal Ângela Vieira. Mas, como isso nem sempre é possível, a melhor solução é estabelecer seus pontos de vista com firmeza, franqueza e seriedade.
"Não é preciso gritar nem ameaçar para sermos firmes. Na maioria dos casos, a clareza no que se decidiu, e no que se quer comunicar, resolve", diz. E não é apenas firmeza na voz. O corpo todo tem de acompanhar essa postura, com olho no olho, coluna reta, centramento. "Não é preciso ficar rígido, duro. Mas só seguro, calmo, convicto do que diz", afirma a terapeuta.
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